Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/137

espero mais? Acabemos já com isso. O que chegar, chegou. Comigo ninguém pode.

Em poucos minutos o cardão passeiro e passarinheiro, que Lourenço tirara da estrebaria do engenho para se meter na jornada, tomou sobre o dorso o rapaz e a rapariga; e não obstante esta dobrada carga, atravessou com pés seguros os atoleiros, e ganhou outra vez o caminho sem mostrar o menor enfado, antes lesto e forte, graças ao milho que comera de noite.

Por toda a parte foram encontrados riachos cheios que se assemelhavam a rios, campos inundados que se assemelhavam a lagos, vales que se assemelhavam a correntes encachoeiradas, e enfim as provas evidentes do inverno que se prolongou em Pernambuco de 1712 a 1713.

Mas Bernardina, na sua qualidade de mulher, tinha ânimo inexcedível. A sua organização parecia de ferro. Nada a fatigava.

Quanto mais se afastavam da colônia de malfeitores, mais animada e contente se mostrava a fugitiva.

— Estou vendo que você é muito forte, Bernardina - observou uma vez Lourenço.

— Ora! retorquiu ela com disfarce. Neste cortado vou até o fim do mundo. Estou tão contente como você não avalia. Vou achando tanta graça nos matos que eu aborrecia ainda ontem... Que bonita manhã, não é Lourenço? Eu vou achando tudo tão bonito, porque me soltei da prisão.