Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/15

— Senhores, disse ele, não há razão para assim vos mostrardes descontentes. O ouvidor não podia deixar de restabelecer o pelourinho, demolido em 1710 no ardor das paixões pelo povo levantado, visto que a vila está criada. Até me parece que, a não ter este procedimento, o ouvidor incorreria em culpa.

— Perdoe-me v. exa., redargüiu Estevam de Aragão. É verdade que a vila está criada; mas, tendo oposto os nobres e os homens bons, ou antes o clero, a nobreza e o povo da capitania (que não podem compreender neste número os abomináveis mascates) geral reação a este ato, justo parecera que sem novo ato em que se visse manifesta a vontade de el-rei acerca de tal assunto, não houvesse por parte dos ministros a menor deliberação. Poder-se-á acaso compreender que os pernambucanos derramassem o seu sangue, que a nobreza lançasse mão das armas e gastasse rios de dinheiro pra no fim de tão sanguinolenta e dispendiosa contenda, ficarem satisfeitos com a renovação do infame padrão?! Demais, que significam a carta de D. Lourenço de Almeida, e a confirmação do perdão aos nobres pelo primeiro levante senão que estes tinham razão no dito assunto? Declaro a v. exa., não posso conformar-me com a opinião dos que entendem estar tudo acabado, e nada nos restar d'ora em diante neste singular pleito, senão curvarmos a cabeça aos que tem agora por si a autoridade que não sabem dar o devido apreço à sua honra, e à justiça entregue