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virtude, especialmente se lhe devia gratidão. Os pobres, os viajeiros, os doentes sem encosto encontravam em casa de João Mateus abrigo paternal e piedoso.

A sua fama, porque a fama dos bons homens vai a grandes distâncias como vão os sons, invadira as cercanias e impusera aos que antes o defraudavam, respeitosa afeição que nos últimos tempo se traduziu em estima de filhos para pai. Os próprios bandidos desenfreados não ousavam penetrar na fazenda do Jatobá, senão quando tinham de pedir com que matar as suas necessidades, nunca se apossarem, como dantes, do que lhes não pertencia. A qualquer hora do dia ou da noite, de verão ou de inverno, a porta da casa do Jatobá abria-se para dar agasalho a quem batia nela. Mariana - a negra, e Clara - a negrota, inquiriam do hóspede se precisava de alimentos ou de remédios; os primeiros davam-lhos elas, os últimos era o ancião quem os ministrava; se o caso urgia, levantava-se ele ainda que fosse fora de horas, a fim de acudir àquele a quem os seus socorros deviam oferecer alívio. E porque as moléstias que ordinariamente atacavam as pessoas do povo naquelas circunstâncias, eram uma dor, umas maleitas, uma maligna, quase sempre a limitada ciência prática de João Mateus e os remédios de que ele dispunha, bastavam a minorar senão a extinguir o padecimento alheio.

Ao passo que cuidava tão paternalmente dos outros, não se descuidava inteiramente de si mesmo.