Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/163

— Posso e desejo, porque sei que desta não hei de escapar.

O fazendeiro levantou-se, puxou a porta do quarto contra si, deu volta à chave, e tomou por uma portinha que parecia estabelecer secreta comunicação com o aposento contíguo. Era neste que ele tinha em bom recado os seus livros e outros objetos que muito zelava. Ao cabo de alguns minutos estava de volta à alcova, e dizia ao enfermo:

— Lourenço, os teus desejos vão ser satisfeitos.

Lourenço abriu novamente os olhos. À sua cabeceira achava-se um padre com a vestimenta negra e tala. Procurando com as vistas, à luz do candeeiro que alumiava a alcova, o fazendeiro que acabara de falar-lhe, não o encontrou. Volvendo-as depois ao padre, e parecendo reconhecer nele um antigo conhecido:

— "Seu" padre Antonio! exclamou espantado.

— Tu me reconheces? respondeu o fazendeiro, que não era outro senão o padre Antonio de Mariz.

Lourenço, sem se poder dominar, tentou um esforço para levantar-se. Estendeu os braços como quem queria prender ente eles o sacerdote; mas, faltando-lhe as forças, recaiu em mortal prostração, banhado de sangue.

O padre, porém, foi em seu auxílio. Inclinou-se sobre o enfermo, e pegando-lhe em uma das mãos, inquiriu brandamente:

— Que queres de mim, Lourenço?