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— Pois se está bem pode ficar melhor; e isto é o que eu quero dizer. Vosmecê pode mudar de casa, sem ir para muito longe; ficará tão perto daqui que, chamando por mim, eu daqui mesmo ouvirei a sua voz.

— Como há de ser isso então?

— Eu estive pensando ontem de noite e achei o que queria. Lembrei-me de que tenho em meu poder a chave da casa de seu padre Antonio, que fica ai, do outro lado da estrada. É uma casinha bonita, limpinha e boa. Vosmecê sabe melhor do que eu que ela foi dada a seu padre por seu sargento-mor.

— E está sem morador?

— Está, sim senhora. Na véspera de fazer a viagem, que ninguém sabe onde foi, seu Padre Antonio disse-me estas palavras, que nunca mais hei de esquecer: "Como é possível que no lugar para onde vou, tenha de entregar a alma a Deus, peço-te, Marcelina, que olhes por tudo o que é meu, a minha casa, a minha criação, as minhas plantaçõezinhas, de que levo tantas saudades". A estas palavras, acrescentou ele estas outras: "Se eu morrer por lá mesmo, podem vocês dispor de tudo o que lhes entrego, sejam meus herdeiros; mas, enquanto não tiverem certeza do meu acabamento, tratem de minha casa como bons vizinhos e amigos". Eu não tenho certeza de seu padre ter morrido, e Deus queira que ele tenha ainda muitos anos de vida, e muito breve esteja de volta ao Cajueiro, a que deu tantos aumentos deu com a sua