Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/212

— Cuidavas, talvez, que me dariam na casa, que viriam fazer-me novos insultos.

— Cuidei em tanta coisa, que nem vosmecê sabe. Cuidei em tanta coisa, em tanta coisa, meu Deus!...

De repente, acrescentou:

— Vou ver minha mãe como amanheceu. Vou dizer-lhe que os cabras me deixaram em paz por esta.

A primeira pessoa que o rapaz viu sentada à porta da palhoça, com os olhos na direção donde ele ia, foi Marianinha. Pouco depois apareceu Marcelina.

— Deitei-me com o credo na boca, Lourenço. Deus te abençoe. Deixa-me tomar um fôlego bem comprido, que levei toda a noite com um peso no coração.

Marianinha disse somente que não era bom Lourenço andar pelas bandas da casa do padre Antonio, porque os mascates que deviam ter os olhos na negra de D. Damiana, podiam vê-lo e prendê-lo. Marcelina achou razão no que dizia Marianinha, mas Lourenço dissipou estes receios, observando que quando tivessem que cercar a casa, haviam de vir de noite, e não àquelas horas.

Na manhã seguinte, voltando Lourenço do sobrado, foi sabedor de uma novidade que o abalou; a casa onde residia D. Damiana tinha sido cercada de noite, e haviam arrancado de dentro a negra Felícia.

Para ostentação do pouco caso, realizou-se a diligência à luz de fachos, e com grande acompanhamento; e para melhor fundamento desta publicidade, haviam