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Venho agora achá-la só, vestida de luto, quase desamparada neste ingrato ermo. Reveses da sorte. Mas Deus é grande. Quando você nem mais se lembrava de mim, entro-lhe pela porta, para velar pelo seu destino. Nada lhe faltará de hora em diante. Estou livre, outra vez livre.

Por ocasião do jantar, Amador desenrolou aos olhos da cunhada o tristonho quadro das perseguições e rigores.

Principiou contando-lhe o que ele próprio sofrera de Luís Brás, o famigerado carcereiro das Cinco-Pontas.

— Luís Brás é a imagem fiel dos ministros, seus superiores na hierarquia, seus iguais nas perfídias e manhas. O seu Deus já não é o deus-açúcar; também não é o Deus d'Abrão, mas o deus-dobrão. Os grilhões "feitos a molde de tormento e de martírio, porque não têm mais de um palmo, para impedir aos presos o andar, com o ferro quadrado e farpado para ferir, os elos tão justos que a alguns presos fazem inchar as pernas", os grilhões, inventiva do ministro da devassa, realizada pela Câmara, enchem as mãos de Luís Brás de alourado fruto. "Sem mais ordem de justiça, ele bota nos presos para, a preço de moedas d'ouro, se livrarem deles". Outras vezes, "quando quer que lhas dêem, ameaça-os com eles", o que não produz pequeno lucro. Nenhum dos presos logra escrever duas regras a quem quer que seja, sem pagar a este fiscal da tirania