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choques traumáticos a que muitas vezes não se pode resistir com a vida.

Ao princípio, quis fugir para o lado oposto. Não era este o meio direto de resolver aquela situação aflitiva? Fugir das vistas daquele a quem desagradamos, não é passo natural e racional?

Lourenço esteve para dá-lo; mas, compreendendo que, se assim procedesse, confirmaria o mau conceito que dele já formava Marianinha, tomou resolução contrária.

— Elas têm para si que sou um assassino; mas eu não sou o que elas pensam. É preciso que se desenganem. Às vezes, quando me esquento, sou capaz de comer gente viva, mas isto acontece uma vez na vida.

Eis o que ele pensou, eis o que lhe ocorreu, após o primeiro impulso, vencido pelas reflexões. Não hesitou mais, e encaminhou-se para onde estavam mãe e filha.

— Então, que é isto, Marianinha? perguntou ele, ainda de longe. Correu de mim? Eu não venho fazer mal a ninguém. O meu facão não tem ponta; partiu-se ali atrás em uma pedra onde quebrei a cabeça; e é por isso que estou com a camisa cheia de sangue.

Assim falando, Lourenço atirou o facão, de feito quebrado, aos pés da menina, a fim de que ela visse distintamente que ele dissera a verdade.