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me dentro deste oco, onde ninguém me há de ver.

O enfado da jornada trouxe-lhe sono que depressa o prendeu, não obstante a chuva. Pela madrugada acordou, ouvindo soar tiros ao longe; e conquanto estivesse certo de se terem ordenado diligências contra os nobres escondidos, recuperou o sono, e dormiu até o raiar do dia, que foi fresco e belo. A chuva cessara inteiramente. O sol dardejava raios horizontais por entre as folhagens, que se esclareciam tomando diferente aspecto.

Apenas de pé, quando tratava de buscar o cavalo para continuar a jornada, ouviu ruído de passos e vozes perto. Os passos e as vozes foram aumentando pouco a pouco. Dentro de algum tempo aquele ruído já era acompanhado do retintim de muitas armas. Enfim, viu o rapaz, com espanto e confusão, desfilar por diante das árvores, que o encobriam, grande partida de soldados.

Afiguravam-se estes aos seus olhos vultos patibulares, visões pavorosas como demônios em que ele acreditava.

Tinham calças arregaçadas e enlameadas, as jaquetas pegadas ao corpo, os chapéus ainda umedecidos e demudados, nas faces estampado o sono, o cansaço, a fome e a maldade, nas mãos armas sinistras e ameaçadoras.

Grande parte desta força passante, de duzentos homens, era composta de caboclos; no restante havia de