— O que entende por autocrata, Sr. Cunha?
— Perdão: vejo que toma ao sério um gracejo. Mudes de assunto; não desejo ofendê-lo.
O Couto, que nos ouvia de principio, interveio na conversa.
— A significação da palavra é bem clara, Sr. Silva, disse .n o seu fátuo sorriso.
— Se o Sr. Couto quisesse fazer-me o favor de explicá-la Tenho a inteligência embotada.
O velho calou-se com visível embaraço. Continuei pesando as minhas palavras:
— O senhor quer talvez lembrar-me que os autocratas têm o costume de tiranizar os povos e vexá-los de imposições; razão por que os povos, quando os expulsam, se tornam excessivamente exigentes para com os truões que lhes sucedera. Não é isto? Diga-me por obséquio: não faz idéia da ansiedade com que procuro desde ontem um homem que tenha a coragem de repetir-mo em face!
— Ora, o senhor está brincando!
E o Sr. Couto fez-me uma profunda cortesia, e saiu empertigando-se mais que de costume.
Voltei-me para o Cunha.
— Bem dada lição! disse estendendo-me a mão.
Decididamente não havia meio de brigar; o homem que eu procurava fugia-me como uma sombra.