— E uma bonita mulher, não achas? repliquei fingindo indiferença, mas realmente humilhado pela calma e sossego de Lúcia.

— Não conheço nem uma no Rio de Janeiro, nem mais bonita, nem mais graciosa. Merece todas as atenções de que a cercam.

— Estive conversando com ela; achei-a muito agradável. Se não tivesse receio de desgostar-te, iria vê-la.

Lúcia calou-se e levou o binóculo aos olhos. Era demais; nem sequer um despeito simulado. A consciência de sua infidelidade a pungiria tanto que se reconhecia indigna até de fingir ciúmes? Ou desejava ela ver romper-se o último véu que ainda nos ocultava a ambos a realidade de uma afeição partida?

— Sabes o provérbio, Lúcia. Quem cala consente.

— Como! Não ouvi! disse-me retirando o óculo e voltando-se para mim com a expressão lesa de quem procura apreender uma idéia no vácuo da memória.

— É indiferente para ti que eu veja aquela francesa! O teu silencio é claro!

— Tenho acaso o direito de me queixar? disse com melancolia. O prazer que ela lhe promete, sinto que já não posso dá-lo.

— Porque não queres; porque já não és a mesma'

— Não decerto, não sou a mesma! Mudei tanto!

— Para mim unicamente!

Ela fitou-me com um olhar ingênuo. Hoje que me lembro da expressão desse olhar leio nele perfeitamente: <<