e graça podia salvar do ridículo. Figure uma moça vestida de ricas sedas, com as mangas enroladas e a saia arregaçada e atada em nó sobre o meio da crinolina; com uma toalha passada pelo pescoço à guisa de avental; vermelha pelo calor e reflexo do fogo, batendo gemas de ovos para fazer não sei que doce. Repito: era preciso ter a faceirice e gentileza daquela mulher, para nessa posição e no meio da moldura de paredes enfumaçadas, obrigar que a admirassem ainda.
Fui tirá-la da sua azáfama doceira, e a trouxe confusa e envergonhada. Depois que ela reparou a desordem de seu traje, tanto quanto era possível, tomei-lhe contas severas.
— Quando pedi à senhora que passasse o dia comigo, não foi para me servir nem de cozinheira, nem de costureira, nem de criada.
— De que posso eu servir-lhe?
— O mais grave porém não é isso: a senhora encheu a minha casa de objetos que não me pertencem, porque não os comprei.
Ela tirou um papel do seio:
— Oh! eu o conheço!... Tudo foi comprado com o dinheiro que tirei da sua gaveta. Aqui tem a conta. Se fiz mal em gastar sem sua ordem, ralhe comigo; suponha que eu pedi essa quantia, que o senhor decerto não me recusaria.
Lúcia deu-me a conta que eu rasguei sem ler fazendo-a sentar nos meus joelhos, e cobrindo-a de beijos.
— Olhe lá! Já faltou ao prometido! Mas desta vez passe; porque me perdoou. Se não se apressasse, eu mesma lhos daria.
— Ainda está em tempo!
— Não, senhor. Quero fazer valer a minha