meu seio borbotaram nessa única palavra, grito e soluço de uma angústia cruel. Lúcia tornou-se lívida; vacilou. Com um supremo esforço dominando a vertigem que a tomava, cobriu-me com um olhar frio, cheio de tanta dignidade e altivez, que me colou imóvel sobre o chão. Assim pasmo e quedo, vi-a atravessar com lentidão a sala e desaparecer detrás de uma porta, que se fechou surdamente. Pareceu-me ouvir selar a lousa do túmulo, onde eu acabasse de sepultar uma porção de minha alma.
Lancei-me pelas ruas desatinado. As quatro horas da tarde ainda eu vagava sem destino.
O Sá passava no seu tílburi; viu-me e parou:
— Que milagre é este: ressuscitaste!
— Não me fales nisso!
— Ah! estás apenas em convalescença; mas desta vez incumbo-me de curar-te, para que não tenhas nova recaída.
— Asseguro-te que não há mais perigo.
— Se não me engano, ainda não jantaste.
— Nem quero.
— Vem jantar comigo; entrarás imediatamente no regime higiênico que pretendo receitar-te.
Tomou as rédeas do cocheiro, que seguiu a pé, e ofereceu-me um lugar no tílburi.
Mais tarde Sá interrogou-me sobre o que se tinha passado; porém recusei constantemente satisfazer a sua curiosidade. Para que ele compreendesse o meu sofrimento, fora mister contar-lhe as minhas relações intimas com Lúcia; e era esse mistério que invencível pudor d'alma não me deixava expor a outros olhos, fossem eles de um amigo.
Achei-me num estado de apatia moral; tinha medo da iniciativa, porque vagamente pressentia que ela