Às cinco horas da manhã estava de pé, vestindo-me para ir buscar Lúcia.

Na véspera ao despedir-se de mim ela me dissera:

— Amanhã mudo-me. Venha-me buscar ao romper do dia. Desejo... careco de entrar apoiada ao seu braço na casa onde vou viver a minha nova existência.

Achei-a pronta e esperando-me; os vestígios da comoção violenta que haviam produzido as amargas recordações, desapareciam sob a plácida serenidade que reslumbrava de sua alma e dava à sua beleza uma suave limpidez.

Partimos a pé, com a fresca da manhã; fizemos um dos mais belos passeios de que se pode gozar no Rio de Janeiro. A casa ainda estava fechada: o preto que a guardava veio abrir-nos o portão; corremos o jardim colhendo flores, enquanto se arejavam as salas para receber-nos. Os cômodos eram suficientes para duas pessoas; Lúcia devia morar com sua irmã, que ia sair do colégio.

Apesar da revelação da véspera, continuava a dar a Lúcia esse doce nome, que estava tão habituado a pronunciar. Uma vez porém ela olhou-me com uma expressão de mágoa:

— Paulo, disse-me com brandura, chama-me Maria!

Desde então quando eu pronunciava esse nome, sua alma tinha enlevos, e ela acompanhava o movimento de meus lábios estremecendo de gozo, como se todo o seu corpo sentisse uma doce carícia.

— Quando me chamas assim, Paulo, murmurava ela, parece-me que tu me embebes e me afagas