em que não me peja, ao contrário tenho orgulho, de viver por ti e para ti.
A carteira continha pequenos maços de notas, com o algarismo e uma data escrita no rótulo.
— Não sei o que quer dizer isto!
— Não te lembras, quando ias à gavetinha do meu toucador? Aí está o que me davas, dia por dia. Compreendes agora ?
— Mas isto é uma bagatela; não é uma fortuna!
— Chega-me; demais, eu trabalho, e quando alguma vez precisar, não terei vergonha de pedir-te. Verás.
— O que me parece de eqüidade é dividires esta soma com tua irmã, e guardares o resto. Ela pode casar, seguir seu marido. . . Quem sabe o que sucederá?
— Tudo quanto quiseres, Paulo, menos isso. Não tenho outra vontade que não seja a tua, mas estou certa que me hás de compreender e consentir. O que me custou tantas angústias, e tantas humilhações, não me pode pertencer, não. Só uma coisa justifica essa fortuna, é o motivo santo por que me vendi para adquiri-la. Ana pode gozar dela sem remorso e sem vexame, porque não saberá donde lhe vem; a mim amargaria o pão amassado com tanto fel! Não achas que eu tenho razão?
— Maria, meu anjo, não fales nisso mais nunca! Faze o que quiseres; eu aprovo tudo.
— Deixa-me acabar. Agora só vivo, e só quero viver do que me deste; porque a minha coragem, o meu trabalho, tudo é inspiração tua. O dinheiro pois que ganhar com minhas mãos, ainda me vem de ti! Não possuo hoje um objeto, a coisa mais insignificante, que tenha outra origem. É talvez uma superstição; mas quero conservá-la.