alma entre a sua boca e tua gozaria dos beijos de ambos. Que suprema delícia...
Lúcia calou-se de súbito, empalidecendo. Toda a sua pessoa assumiu-se, tomando a expressão vaga e extática de quem é absorvido por um recolho íntimo: figurava uma pessoa escutando-se viver interiormente. Até que ergueu-se espavorida; soltou um gemido pungente levando a mão ao regaço, e caiu fulminada em meus braços.
O abalo interior que sofrera esse corpo delicado fora tão forte, que a cintura do vestido se despedaçara.
Conduzi Lúcia ao seu leito, e só depois de cruéis angústias tive o consolo de vê-la recobrar os sentidos, mas para cair logo numa prostração, em que apesar dos meus rogos e instâncias, só a ouvia murmurar surdamente estas palavras incompreensíveis:
— Eu adivinhava que ele me levaria consigo!
— Ele quem, minha boa Maria?
— O teu, o nosso filho! respondeu-me ela.
— Como! Julgas ?. . .
— Senti há pouco o seu primeiro e o seu último movimento!
— Um filho! Mas é um novo laço e mais forte que nos prende um ao outro. Serás mãe, minha querida Maria? Terás mais esse doce sentimento da maternidade para encher-te o coração; terás mais uma criatura com quem repartir a riqueza inexaurível de tua alma!
— Cala-te, Paulo! Ele morreu! disse-me com a voz surda. E fui eu que o matei!
— Para que te afliges assim! Nosso filho vive, há de viver! Não sentiste há pouco o seu primeiro movimento.