— Que idéia triste o senhor deve ter de mim! murmurou com a voz sumida.
— Para que te prestas a estas coisas!
— O que sou eu ?
— Embora! Há sempre um resto de dignidade, que impede a mulher de consentir no que acabas de fazer.
— Dignidade de quem se despreza a si mesma!... O que é este corpo que lhes mostrei há pouco, e que lhes tenho mostrado tantas vezes! O que vale para mim? O mesmo, menos ainda, do que o vestido que despi; este é de seda e custou o que não custa uma de minhas noites!. . . Oh! creia, mais nua do que há pouco me sinto eu agora, coberta como estou e aqui onde a sombra nem lhe deixa ver meu rosto!... Porém sua alma vê o que fui e o que sou, e tenho vergonha!
Lúcia atirou-se soluçando sobre o meu peito; e o que me restava ainda de indignação, desvaneceu-se.
— Por que não persististe na tua musa? Eu te pedi!
— Tinha eu o direito de recusar? Não foi para isso que se deu esta ceia!
— Sá te disse alguma coisa a meu respeito?
— Não; mas adivinhei Queria que lhe roubasse a surpresa que estava preparada, e aguasse com uma contrariedade a festa de seu amigo? Demais, não havia de saber; não lhe contariam, se já não lhe contaram, toda a minha vida?
— Não me incomodaria tanto como o que vi.
— Mas então para que veio?
— Não sabia o que se tinha de passar; suspeitava que te havia de encontrar aqui; porém nunca pensei que homens de educação achassem prazer