sombras que nublavam o meu pensamento assomava radiante a mulher que eu possuíra na véspera com todas as forças de minha vitalidade. O desejo parecia mesmo ter adquirido nova têmpera, e mais poderosa, na luta de que saíra.
Lúcia se tinha sentado junto de mim; alisava-me os cabelos, olhando-me à luz das estrelas.
— Se não tivesse vindo! suspirou ela Não me fugiria; talvez olhasse para mim como das primeiras vezes que nos vimos; ao menos ainda poderia dar-lhe um pouco de prazer, já que nada mais tinha para dar-lhe.
— E por que não me darás ainda, Lúcia, esse prazer?
— Depois do que se passou ?
— Cala-te! murmurei surdamente. Tu és uma criança!... Não tens culpa do que fizeste!
— Deveras me perdoa ?. . . Ainda me quer?
Colei os meus lábios ao ouvido de Lúcia; tinha vergonha do eco de minhas palavras.
— Quero-te para sempre' Quero que sejas minha e minha só.
— Ah!...
Lúcia saltou como a gazela prestes a desferir a corrida, quando as baforadas do vento lhe trazem o faro de tigre remo to; estendendo o braço mostrou-me a sala da ceia, donde escapava luz e rumor.
— Mais longe!...
Fomos através das árvores até um berço de relva coberto por espêsso dossel de jasmineiros em flor.
— Sim! Esqueça tudo, e nem se lembre que já me visse! Seja agora a primeira vez!... Os beijos que lhe guardei, ninguém os teve nunca! Esses, acredite, são puros!
Lúcia tinha razão. Aqueles beijos, não é possível