regozijei-me com as suas novas disposições, que vinham poupar-nos futuros dissabores.
Desde que os meus escrúpulos desapareciam com a posição que tomara, não havia motivo para deixar de beber a longo trago na taça do prazer, que Lúcia me apresentava sorrindo. Passava todo o meu tempo em sua casa e ao seu lado; conversávamos, ríamos, colhíamos as flores que a mocidade espargia em nosso caminho; e assim corriam as horas tecidas a fio de ouro e púrpura.
Às vezes lia para ela ouvir algum romance, ou a Bíblia, que era o seu livro favorito. Lúcia conservava de tempos passados o hábito da leitura e do estudo; raro era o dia em que não se distraía uma hora pelo menos com o primeiro livro que lhe caía nas mãos. Dessas leituras rápidas e sem método provinha a profusão de noções variadas e imperfeitos que ela adquirira e se revelavam na sua conversação. As segundas e quintas-feiras eu saía; mas apenas tinha comprado algumas galantarias que lhe destinava, já os pés me pruriam para tomar o caminho de sua casa. Depois de três ou quatro horas inutilmente desperdiçadas, voltava ao meu berço de rosas; e por mais cedo que chegasse, sempre chegava tarde para ela, e para mim.
Lúcia tinha a poesia da voluptuosidade.
«Fazer nascer um desejo, nutri-lo, desenvolvê-lo, engrandecê-lo, irritá-lo, afinal satisfazê-lo, diz Balzac, é um poema completo.:> Ela compunha esses poemas divinos com um beijo, um olhar, um sorriso, um gesto. Que de harmonias sublimes não arrancava da lira do amor com aquelas notas de sua chave voluptuosa! E a sua beleza admirável, como a sua graça infinita, davam