dar à luz. o verbo era então polido, tempo virá em que dar à luz seja substituída por outra expressão; e nenhum jornal, nenhum teatro a imprimirá ou declamará como fazemos hoje.
A razão disto, se não fosse óbvia. podíamos apadrinhá-la com Macaulay: é que há termos delicados num século e grosseiros no século seguinte. Acrescentarei que noutros casos a razão pode ser simplesmente tolerância do gosto.
Que há, pois, comum entre exemplos dessa ordem e a escola de que tratamos? Em que pode um drama de Israel. Lima comédia de Atenas, uma locução de Shakespeare ou de Gil Vicente justificar a obscenidade sistemática do Realismo? Diferente coisa é a indecência relativa de uma locução, e a constância de um sistema que, usando aliás de relativa decência nas palavras, acumula e mescla toda a solte de idéias e sensações lascivas; que, no desenho e colorido de uma mulher, por exemplo, vai direito às indicações sensuais.
Não peço, decerto, os estafados retratos do Romantismo decadente, te; pelo contrário, alguma coisa há no Realismo que pode ser colhido, em proveito da imaginação e da arte. Mas sair de uni excesso para cair em outro, não é regenerar nada; é trocar o agente da corrupção.