E a peça? A peça é nova.

O poeta, um tanto audaz, quis pôr o engenho à prova. Em vez de caminhar pela estrada real, Quis tomar um atalho. Creio que não há mal Em caminhar no atalho e por nova maneira. Muita gente na estrada ergue muita poeira, E morrer sufocado é morte de mau gosto. Foi de ânimo tranqüilo e de tranqüilo rosto À nova inspiração buscar caminho azado, E trazer para a cena um assunto acabado. Para atingir o alvo em tão árdua porfia, Tinha a realidade e tinha a fantasia. Dois campos! Qual dos dois? Seria duvidosa A escolha do poeta? Um é de terra e prosa, Outro de alva poesia e murta delicada. Há tanta vida, e luz, e alegria elevada Neste, como há naquele aborrecimento e tédio. O poeta que fez? Tomou um termo médio; E deu, para fazer uma dualidade, A destra à fantasia, a sestra à realidade. Com esta viajou pelo éter transparente Para infundir-lhe um tom mais nobre... e mais decente. Com aquela, vencendo o invencível pudor, Foi passear à noite à rua do Ouvidor.

Mal que as consorciou com o oposto elemento, Transformou-se uma e outra. Era o melhor momento Para levar ao cabo a obra desejada. Aqui pede perdão a musa envergonhada: