Não sei; mas é tão doce ouvir-vos! Acabai, acabai, meu poeta! Ou antes, não, não acabeis; falai sempre, deixai-me ficar perpetuamente a escutar-vos.
CAMÕES - Ai de nós! A perpetuidade é um simples instante, um instante em que nos deixam sós nesta sala! (D. Catarina afasta-se rapidamente.) Olhai; só a idéia do perigo vos arredou de mim.
D. CATARINA - Na verdade, se nos vissem... Se alguém aí, por esses reposteiros... Adeus...
CAMÕES - Medrosa, eterna medrosa!
D. CATARINA - Pode ser que sim; mas não está isso mesmo no meu retrato?
Um encolhido ousar, uma brandura,
Um medo sem ter culpa; um ar sereno,
Um longo e obediente sofrimento...
CAMÕES -
Esta foi a celeste formosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.
D. CATARINA, indo a ele. - Pois então? A vossa Circe manda-vos que não duvideis dela, que lhe perdoeis os medos, tão próprios