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tendo q̃ esta consulta se acha detida na Secretaria do Estado, de que foi secretario Diogo Mendonça Corte Real, que hoje habita em Mazagão, na qual secretaria se pode procurar esta consulta p.a se lhe dar a providencia necessaria, assim p.a bem dos pobres convalecentes, como p.a o d.o Tribunal dar cumprimento a obra de que se encarregou. V. Mag.de mandará o que for servido. Lisboa 2 de 9.bro de 1761.

Manoel da Maya.

Autographo.


Importantes foram os serviços prestados por Manuel da Maya á Torre do Tombo como guarda-mor não só no que respeita á ordenação e catalogação dos documentos, mas por occasião do terremoto de 1755 em que, em vez de acudir á sua casa, que deixou arder, procurou no que poude salzar os thesouros do Archivo.

Falleceu em 17 de setembro de 1768, e foi, conforme a sua vontade, sepultado na casa de capitulo do convento de S. Pedro de Alcantara. Passava dos noventa e um annos; e toda a vida manteve severamente um voto de castidade que fizera aos doze.

A sua exagerada devoção levou-o a ser denunciante do Santo Officio, o que nesse tempo era tido como virtude. Denunciou em 8 de julho de 1755 de allemão das relações do P.e Cardone por transmudar o azougue em prata, reputando-o um illuminado, e denunciou um cunhado de Mangin, abridor de cunhos da Casa da Moeda, como mação[1].

Que ominosos tempos aquelles em que até os espiritos mais lucidos enfermavam d'estas aberrações moraes!

  1. T. do Tombo. Cad. 114 dos promotores da Inquisição de Lx.a fl. 210 — Communicação do Sr. Pedro de Azevedo