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cidade nova; mas tão dispendiosas pela pedra lavrada que nelles se empregou, que julgo ser esta a causa de os não haver nas mais ruas; e tão defeituosas na sua configuração que não preenchem, ou preenchem mui mal os fins para que são destinados. Primeiramente por terem pavimentos chatos subindo as paredes lateraes em angulos rectos, nos quaes se depoem as immundicias; e em segundo lugar por darem entrada ás agoas da maré, diffundindo-se nas casas hum fedor tal, que as torna quasi inhabitaveis, o que tudo se pode emendar em aquelles que de novo se fizerem: 1.º construindo-se de tijolo, por ser mais barato, e em forma eliptica para se não estagnarem as immundicias; 2.º ficando as suas desembocaduras superiores ás agoas das enchentes do Tejo; 3.º encanando-se-lhes as agoas dos telhados ruas e cosinhas, para os conservar sempre lavados; providencias que se devem igualmente estender a toda a cidade velha, e sem as quaes a fedorenta cidade de Lisboa, será sempre hum manancial de molestias, a vergonha da nação, e hum objecto ascaroso pelos montões de immunidicias accumuladas nas ruas, por effeito do descuido inveterado de se não varrerem, e se não tirarem com a devida regularidade, não obstante as rendas que ha destinadas para isso».

É um interessante quadro de Lisboa do seculo XVIII, antes do terremoto. Quem o quizer conhecer completo leia o livro de Ratton.

Seguem-se considerações que por extensas não transcrevemos, mas que, com o trecho que deixamos reproduzidos, servirão para confrontar as ideias do tempo e o que Ratton indica como realisado, attribuindo-o ao executor Eugenio dos Santos, com o que na importante memoria inedita, que adeante publicamos, Manuel da Maya apresenta