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Seu manto de neblinas fluctuava
Sobre as fragas, mais tenue e transparente...
O Outomno dispersou-se pelos montes,
Como um sol-pôr que foge e vae deixando,
No corpo vivo e liquido das fontes,
Macerações de luz e chagas de oiro.
O Outomno dispersou-se pela Serra,
Em arripios vagos que, no ar,
Eram sôpros de vento e sobre a terra,
Brumosos tons de cinza e de saudade...
E n'um ultimo gesto nevoento,
Onde o riso do sol se enternecia,
Seu Vulto se afastou; e mais alegre,
Quasi primaveril se fez o dia...


E sua voz anciosa, muito além,
Nublada e tôrva, exclama com tristeza:
(Voz morta de phantasma que ainda tem
Um doido apêgo á vida que o deixou)


—Tudo o que sou agora é só a imagem
Dos meus tempos futuros! E o doirado
Somno leve que dorme esta Paisagem,
Será, um dia, o somno sempiterno!...