Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/150

146


Sua fronte que scisma envolta em nuvens...
E cada altivo sêrro lhes falava;
E cada nevoa eterea, esvoaçante,
De perto, ali do céu, lhes acenava...
E a sua benção de oiro o Sol divino
Sobre eles espargia... e as ovelhinhas
Dos rebanhos pacíficos erguiam
Para a Saudade Virgem os seus olhos,
E bem se via que elas bem na viam...
Ficavam-se abysmadas, esquecendo
As verdes ervas tenras; e os Pastôres,
A sua frauta rustica tangendo,
Celebravam Marános e a Saudade.


E os Dois, que iam scismando, de repente,
Descobriram, surprezos, no horisonte,
Desanuviada, alegre e resplendente,
A Senhora da Graça, toda cheia
De graça e luz, em seu altivo píncaro
De vulcanico talhe, esvelto e sério;
Coroado de oiro, ao sol, e á luz da lua
Coroado de sonho e de mysterio...
E a Senhora da Graça lhes sorria
De longe, que o sorriso d'uma Santa
Não conhece distancias, e alumia
De longe, como a estrela mais remota...


Tudo viam de ali, d'aquela altura,
Desde a Serra da Estrela á branca nevoa
Que no Poente lateja e ao sol fulgura,
E é um vislumbre chimerico do Mar...

E os fundos, êrmos vales que se espraiam