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XIII OS PASTORES Uns pastores da Serra se ajuntaram Em volta d'uma lisa rocha brava, Onde acenderam logo uma fogueira, Porque a névoa era gélida e molhava. E emquanto o fogo ardia alegremente, Conversavam acerca de Marános E da Menina e Moça, de inocente Expressão solitária e piedosa . . . E a todos intrigava a estranha vida Que viviam ali; e os seus amores, / E o amor àquela Serra que, afinal Só aproveita aos gados e aos pastores . . E em seus húmidos olhos nevoentos, Marános e a Saudade, em clara imagem, Surgiam e viviam, recordando Dois vultos, atravez d'uma paisagem . . . E falavam de Fadas e Bruxedos; Negros contos da noite de Natal, Quando descem ás fontes os penedos, Rolando pelos íngremes outeiros, Para matar a sede secular Que lhes ficou dos tempos abrasados . . . E quando a feia Morte, á luz do luar,

Cavalga por atalhos e caminhos . . .