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Sorrindo, caminhava, esvoaçando,
Hieratica, divina, resplendente...
E outras nuvens, tão altas, a seguiam...
E emquanto mais felizes, no Infinito,
Espirituaes e leves se elevavam,
Suas sombras, (ai d'elas!) que eram feitas
De escuridade e pêso, rastejavam...


Marános era um môço, projectando
Para os lados do poente, a sua sombra...
E julgava avistar, de quando em quando,
A adoravel imagem da Donzela...
E sentia-lhe os passos, e até mesmo
Suas ternas palavras amorosas...
Depois, apenas via deante d'ele,
Altitudes sombrias e brumosas...
E para as outras bandas, as longinquas
Paisagens apagadas, mais o outeiro
Da Aparição; e ao fundo, o rio Tamega
Todo mudado em branco nevoeiro.
E uma tristeza doce de crepusculo,
Um cair de folhas mortas se casava,
Dentro em seu coração, com a alegria
Das aves e do sol que o deslumbrava.
Gostava de sentir esta tristeza
Que nos prende ao que fica ... Na verdade,
Um homem só se encontra no que perde,
Porque ele abrange o Espaço e a Eternidade!


Emquanto um homem vive, a sua vida
É assim como se fosse sempiterna;

E a Dôr, n'esse momento em que é sofrida,