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E o claro Som, beijando o Sêr, lhe disse:
—Em ti, eu quero ouvir-mè!—E por encanto,
Os primeiros ouvidos se inundaram
De som que é luz ouvida, etéreo canto...
E foi assim que todos os Sentidos
Na superficie extatica do Sêr,
Afloráram, deitando essas raizes
Que penetram a terra e o sol a arder,
Tirando á terra, ao sol, á névoa, á flor
A essencia espiritual da Natureza,
E integrando-a depois no corpo humano,
Para que fosse amor, sonho e beleza...


«E d'este modo a Alma foi creada...
E desde esse momento extraordinario,
Apareceu á luz um Novo Mundo,
E n'ele vive o Sêr Imaginario;
Mas real, pertencente á vida eterna.
E é n'esse novo mundo que os Sentidos,
Tendo presa a raiz á luz dos astros,
Erguem os altos ramos florescidos,
Ávidos de outra luz e de outros ares...
Com a raiz devoram céu e terra
E vão beber nas nuvens e nos mares,
E comungam as sombras que derivam
De tudo o que é mortal e transitorio...
E aspiram sonho e amor pelas folhagens;
E descobrem assim, no mesmo instante,
Duas Terras, dois Céus, duas Paisagens!


«Pelos Cinco Sentidos, d'esta forma,

O teu Reino dramatico e animal