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rogos de naufraga alucinada. Era contra a ordem da casa receber doentes sem os respectivos documentos de entrada. Mas a alma generosa do homem, venceu os deveres do profissional. Foi conduzida a um aposento onde supunha que ficaria isolada dos doentes. Não se atrevia a interrogar o medico, ao transpôr aquelas infernais galerias onde se desenrolava a afirmação atróz da inconsciencia, da injustiça e da crueldade humana. Ia quasi sonambula. Deixava-se arrastar. O seu braço tremia convulsamente enclavinhado ao braço do medico. Tomára-a um pavôr indescritivel. Ao atravessar aquela horrorosa multidão de loucos que gritavam, que dansavam, que blasfemavam, riam, choravam, escarneeiam, ameaçavam em impetos de colera, em imprecações obscenas, em gargalhadas estridulas e arripiantes, em uivos de fera, em gritos dilacerantes, teve a pavorosa impressão de que tambem ela ia enlouquecer.

Queria recuar. Mas não tinha coragem. Um conflito de impressões retinha-lhe o gesto. A vontade doente, não tinha força para resistir, deliberar. Receava desgostar o medico que enternecedoramente cedêra aos seus rogos em tão