Aqueles que só lêem pela cartilha do septicismo positivista e prosaico, hão-de achar que idealisei as personagens desta odisseia, revestindo-as de sentimentalismo romántico e de poesia piégas.
Não estou porventura dentro do espírito da minha raça?
Que somos nós, a despeito das mais rudes exterioridades, senão poetas de coração, idealistas de imaginação ardente tecida de sentimentalidade nesta rede de fluidez e de feitiço que é a terra portuguesa?
Mas afinal eu não transfiguro as personagens. Extrai-o apenas á matéria a sua mais pura essência. Uno a realidade vivente à poesia ideal, é certo. Mas não saio da realidade objectiva. Apenas desdobro o corpo astral mergulhado no mistério do inrevelado que se condensa em espiritualidade invisível. Dentro dessa esfera luminosa, o ser material transfunde-se em luz e destaca num plano simpático em que as culpas se apagam para pôr em fóco as virtudes.
Firemos a cada um dêsses personagens as roupagens exteriores, vestidas por mil factores de imperfeição, que nos rodeiam e saturam ânimos frouxos e variáveis, ou revestem de áspera rigidez caracteres mutáveis.