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passar por helaira, e que foi apenas mulher de graciosas galanterias, desejando converter e iluminar, seduzindo e atraindo pelas suas graças espirituais e corporais. Esquilo e Sofocles lhe deveram muitos dos seus triunfos teatrais.

E Sócrates escutou, atento, reverente, os seus conselhos sábios, intuitivos e filosóficos, á sombra das palmeiras orientais que bordavam as margens dos mares Jonios.

Como esta celebre grega que desceu do Olimpo da arte para inspirar génios e glorificar poetas, tambem á mulher que é hoje a vítima de uma tremenda punição, se póde chamar a musa da inspiração colaboradora no prestígio que trouxe a V. Ex.a horas e regalias de triunfo.

Soube V. Ex.a compreendê-la?

Esmerou-se em conquistá-la, em atraí-la e fixá-la perfeitamente e amoravelmente em si?

Talvez não. E como a causa principal do desvario de que a acusam reside nesse facto, esse desvario deixa de ser consequência exclusiva da sua conduta, para ser delito de responsabilidade reciproca. E sobre êsse ponto que vou entrar na discussão das razões arquivadas no livro «Doida Não!», rubricadas por muitas outras provas que circulam entre a corrente das opiniões públicas, comprometendo a acusação e favorecendo a defeza, por forma a fazer entrar no trilho da justiça os deveres dos homens para com os legítimos e sagrados direitos das mulheres, as eternas sacrificadas, que passam do sacrificio á revolta e da revolta ás extremas deliberações.

Mas eu desejo, repito, ser justa e recta nas minhas definições. Condeno o egoismo sem tréguas. Considero-o um dos maiores agentes da infelicidade, um martirisante