Depois de escritas as páginas anteriores, deliberei conhecer o terrivel chauffeur pasto a ferros de cárcere, emquanto lá ao longe, na sua aldeia natal de Roção, uns olhos lacrimosos de mãe choram noite e dia o filho bemquerido que era o seu solicito amparo.
Dirigi-me à cadeia da Relação. Só uma vez lá entrara para visitar uma senhora de Matozinhos que, numa exaltação de ofendida, dera uns tiros num empregado.
No rés-de-chão uns homens vestidos pobremente de ganga azul, quási negra de suja, remexiam em grandes e defumados caldeirões o rancho dos encarcerados.
Informei-me do número de reclusos pela soma de rações fabricadas. Devia orçar por setecentos, me respondeu o empregado. Puz-me logo a cogitar: Quantos criminosos estarão nesse número? Quantos inocentes? Quantos irresponsáveis de actos e vícios incutidos pela educação e pela hereditariedade?
Mas eram horas de visita. Subi a denegrida escadaria, quasi sem luz, tateando nessa escuridão lugubre de treva. No primeiro patamar, um empregado toma conta do meu guarda-chuva, dando-me uma senha metálica. Depois, ao cimo de outro lance de escadas, outro fêrreo e negro portão gradeado aprime' o coração de quem lá entra confrangido