João, comendo o arroz e o cozido, ouvia com um sorriso superior as várias hipóteses dos amigos de seu pai. Quando todos tinham dado a sua opinião, êle poisou o garfo no prato despejado, e disse:
— Eu sei a origem do raio.
— Tu?! exclamou o pai, rindo.
— Sim, eu.
— Sabe, sabe, afirmou a mãe.
— Foi o Luís quem me explicou.
— Oh! O Luís é quasi um doutor!
— Tem um grande amôr ao estudo.
— Lá isso tem, apoiaram algumas vozes.
— Bem. Então, se sabes, dize lá, ordenou o pai.
João, com voz muito clara, papagueou:
— O raio é uma descarga elétrica que se produz entre uma nuvem e a terra, e transforma em vidro as areias e a superfície de certas rochas.
Todos ficaram pasmados da sciência de João e o pai dêle, tão vaidoso, que nessa tarde levou-o a passear e, a todos os conhecidos, que encontrava, dizia:
— O meu rapaz, aqui onde o vês, tem só sete anos. Pois já sabe mais do que o pai… Pergunta-lhe a origem dos raios.
João, vendo que com tão pequeno trabalho como é o de prestar atenção a uma coisa que nos ensinam, alcançara tão grande triumfo, tornou-se estudioso e aplicado.