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horas de folga

o côrvo, e não eu, o ladrão. Estive para o dar, mas, como o criei de pequenino, não tive ánimo.

Nisto, uma mulher chamou o carvoeiro, que correu a aviá-la.

Berta ficou na janela a cismar e por fim, limpando uma lágrima que lhe corria pela face, chamou;

Tio Vicente!

O côrvo, aos saltos, abeirou-se do peitoril.

– Ouve lá, disse-lhe Berta: eu dou-te tudo que quizeres, mas has de prometer-me que não roubas mais nada a ninguem.

A mãe de Berta, que entrava naquele momento no quarto, desatou a rir.

– ¿De que ri, mãezinha?

– O côrvo não promete nada; mas, quando o fizesse, não saberia cumprir. É ladrão por instinto.

– Nesse caso não posso continuar a ser amiga dêle, nem a dar-lhe nada. Não devo fazer festas a um ladrão.

A mãe de Berta tornou-se séria, e disse-lhe:

– O sentimento que acabas de exprimir, e que julgas ser recto, é odioso e feio: nasce do orgulho e da vaidade. Nós todos, minha filha, somos sujeitos a errar; e, se os bons se afastarem dos maus, ¿quem tornará bons os maus?

Berta abaixou os olhos, córando.

A mãe beijou-a e disse-lhe:

– Isto não é ralhar: é dizer-te que a nossa consciência é o único juiz das nossas acções, e nunca a