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horas de folga

– Apenas dias.

– Foi Deus que lha enviou, senhor prior. Será o amparo da sua velhice.

– Deus o oiça, tio Braz! E daí… quem sabe?

Há bons vinte anos foi bater á porta da Eira de Calvos um pequenito de três ou quatro anos que disse ter sido mandado para ali pelo pai. Procuraram êste, mas não o acharam e, tendo dó da criança, os de Calvos, que não tinham filhos, ficaram com ela. Mau pago lhes deu. Logo que se apanhou homem e instruido, partiu para o Brasil sem nem ao menos lhes dizer adeus. E por lá ficou. Foi um grande desgosto para aquela família que lhe queria do coração.

– Ingrato! exclamou a tia Vicência indignada.

– E’ do que o mundo está cheio, disse, decidido, o velho.

– Portanto, terminou o padre sorvendo uma pitada, ninguem espere gratidão ou recompensa do bem que faz. Não é pensando na utilidade, que se pode tirar das coisas, que as devemos fazer. A grande, a maior paga, é a satisfação moral da nossa consciência: essa não ha ingratidão que a possa impedir. Quem é digno aos próprios olhos nada tem a desejar: é eleito de Deus, do Deus de imensa piedade, que manda fazer o bem sem olhar a quem.

– E, procedendo assim, ninguem tem de que se arrepender, afirmou a tia Vicência.

– Tambem digo, apoiou o Braz.

Conversaram muito tempo àcerca do futuro da