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horas de folga

quiseram tomar logar, já o não encontraram nem lho fizeram, apesar de serem muito conhecidos e estarem em trajo de côrte e gala. E os espanhóis riram muito de os vêrem ficar sem lugar.

Então Nuno A’lvares, irritado pela grossaria com que se via tratado, disse ao irmão:

– Não é para nós honra demasiada estar aqui. Parece-me que nos devemos ir embora; mas primeiro temos de rir de quem se ri de nós.

E vagarosamente dirigiu-se para a cabeceira da mesa, o que o rei viu muito bem do sítio em que estava sentado, e com os joelhos partiu o pé da mesa pregando com ela no chão. Os que a rodeavam ficaram espantados, e êle, com seu irmão, saiu da sala tão socegado como se nada tivesse feito.

O rei informou-se do caso e, tendo-lhe sido contada a verdade, respondeu:

– Sei que se vingaram bem. E, se a tanto se atreveram neste lugar, para pagar a ofensa recebida, para muito mais terão valor os seus corações.

Se fôssem castelhanos talvez tivessem sido castigados; mas como eram portuguêses que iam no séquito da rainha, D. João de Castela não falou mais em tal. Porêm as crónicas trouxeram até aos nossos dias este curioso exemplo de orgulho dum dos mais nobres portuguêses que têem existido. Teria tido origem neste episódio a frase orgulhoso como um português?

E’ possivel, mas não está provado.