62
horas de folga

temporal. Agora já não respira. Isto vae ser a nossa fortuna, mulher. Não tornaremos a ser pobres. Com o dinheiro que isto nos vai render, Maria, faço-te a vontade: ponho uma tenda e não me meterei mais em negócios, nem tornarei a embarcar.

– O quê? que me dizes tu? exclamou a mulher juntando as mãos num gesto de suprema satisfação.

– O que ouves: este animal vai ser a nossa fortuna.

– ¿Então não é um navio? perguntou a filha.

– Não, minha tontinha, é uma baleia.

– ¿E’ possivel que haja um peixe tão grande?!

– E’ um mamífero marinho e não um peixe.

– Que enormidade! exclamou a mulher.

– Ainda as ha maiores do que esta. Algumas têem perto de vinte e cinco metros de comprimento.

– Mas que cabeça!

– E que dentes tão feios!

– Aquilo não são dentes, respondeu Tomé.

– Então que são? perguntou a mulher.

– São barbas. Formam uma espécie de rêde fina por onde se escôa a água depois de terem fechado a enorme bôca para engulirem uma porção de peixes.

– Vivos!

– Vivos, sim.

– Ai! que horror, meu paizinho! ainda bem que não sou peixe.

– Que corpo!

– Parece um enorme fuso.