Para lêr nas férias
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― ¿Onde ouviste dizer isso?

― Dizia o mano ao Sebastião: tu mereces um adjectivo forte.

D. Gertrudes sorriu e explicou:

― Queria dizer que seria bem feito chamar-lhe estúpido, ou bruto, ou preguiçoso. Adjectivos fortes não ha: tanto podia chamar-lhe fortes, como fracos ou desagradaveis: depende tudo da intenção que se der á palavra.

Josefa, com os olhos muito abertos, escutou com funda atenção as palavras da mãe e, enxugando os olhos, foi, satisfeita, juntar-se ás brincadeiras do primo e do irmão.

Eles tinham um carrinho de madeira com varais para uma pessoa puxar. Josefa propôs-lhes:

― Eu vou passear no carro e vocês puxam-me.

― Não, disse Artur, eu não sou cavalo.

― ¿E se eu te desse dois centavos?

― Nem que me desses cincoenta !

― ¡Sempre és muito orgulhoso!

Por dinheiro não puxo; mas se me deres o teu cãozinho branco...

― Pois sim, mas has de dar quatro voltas á roda do jardim.

― Eu sou o cocheiro, propôs Sebastião. Josefa subiu para o carro e Artur partiu a toda a brida, enquanto Sebastião, ao lado, fingindo galopar nas próprias pernas, dava estalos no ar com o chicote.