estava linda como os amores. O marido viria mostrar-m’a, se eu consentissse.
— Ora essa! irei eu mesmo vel-a.
— Sim?
— Palavra.
— Tanto melhor! respirou Sabina. É tempo de acabar com isto.
Achei-a mais gorda, e talvez mais moça. Parecia ter vinte annos, e contava mais de trinta. Graciosa, affavel, nenhum acanhamento, nenhum resentimento. Olhavamos um para o outro, com as mãos seguras, falando de tudo e de nada, como dous namorados. Era a minha infancia que resurgia, fresca, travessa e loura; os annos iam caindo, como as fileiras de cartas de jogar encurvadas, com que eu brincava em pequeno, e deixavam-me ver a nossa casa, a nossa familia, as nossas festas. Supportei a recordação com algum esforço; mas um barbeiro da visinhança lembrou-se de zangarrear na classica rabeca, e essa voz, — porque até então a recordação era muda, — essa voz do passado, fanhosa e saudosa, a tal ponto me commoveu, que...
Os olhos della estavam seccos. Sabina não herdára a flor amarella e morbida. Que importa? Era minha irmã, meu sangue, um pedaço de minha mãe, e eu disse-lh’o com ternura, com sinceridade... Subito, ouço bater á porta da sala; vou abrir; era um anjinho de cinco annos.
— Entra, Sára, disse Sabina.
Era minha sobrinha. Apanhei-a do chão, beijei-a