Não tinha a caricia lacrymosa de outro tempo; mas a voz era amiga e doce. Sentou-se. Eu estava só, em casa, com um simples enfermeiro; podiamos fallar um ao outro, sem perigo. Virgilia deu-me longas noticias de fóra, narrando-as com graça, com um certo travo de má lingua, que era o sal da palestra; eu, prestes a deixar o mundo, sentia um prazer satanico em mofar delle, em persuadir-me que não deixava nada.

— Que idéas essas! interrompeu-me Virgilia um tanto zangada. Olhe que eu não volto mais. Morrer! Todos nós havemos de morrer; basta estarmos vivos.

E vendo o relógio:

— Jesus! são tres horas. Vou-me embora.

— Já?

— Já; virei amanhã ou depois.

— Não sei se faz bem, retorqui; o doente é um solteirão e a casa não tem senhoras..

— Sua mana?

— Ha de vir cá passar uns dias, mas não póde ser antes de sabbado.

Virgilia reflectiu um instante, levantou os hombros e disse com gravidade:

— Estou velha! Ninguem mais repara em mim. Mas, para cortar duvidas, virei com o Nhonhô.

Nhonhô era um bacharel, unico filho de seu casamento, que, na edade de cinco annos, fóra complice inconsciente de nossos amores. Vieram juntos, dous dias depois, e confesso que, ao vel-os alli, na minha alcova, fui tomado de um acanhamento que nem me