levando a sua bondade a communicar-me que eu estava doudo. Ri-me a principio; mas a nobre convicção do philosopho incutiu-me certo medo. A unica objecção contra a palavra do Quincas Borba é que não me sentia doudo, mas não tendo geralmente os doudos outro conceito de si mesmos, tal objecção ficava sem valor. E vêde se ha algum fundamento na crença popular de que os philosophos são homens alheios ás cousas minimas. No dia seguinte mandou-me o Quincas Borba um alienista. Conhecia-o, fiquei aterrado. Elle porém houve-se com a maior delicadeza e habilidade, despedindo-se tão alegremente que me animou a perguntar-lhe se deveras me não achava doudo.

— Não, disse elle sorrindo; raros homens terão tanto juizo como o senhor.

— Então o Quincas Borba enganou-se?

— Redondamente. E depois: — Ao contrario, se é amigo delle... peço-lhe que o distraia... que...

— Justos céus! Parece-lhe?... Um homem de tamanho espirito! um philosopho!

— Não importa; a loucura entra em todas as casas.

Imaginem a minha afflicção. O alienista, vendo o effeito de suas palavras, reconheceu que eu era amigo do Quincas Borba, e tratou de diminuir a gravidade da advertencia. Observou que podia não ser nada, e accrescentou até que um grãosinho de sandice, longe de fazer mal, dava certo pico á vida. Como eu rejeitasse com horror esta opinião, o alienista sorriu e disse-me um cousa tão extraordinaria, tão extraordinaria, que não merece menos de um capitulo.