CAPITULO XI
 
O menino é pai do homem.
 

Cresci; e nisso é que a familia não interveiu; cresci naturalmente, como crescem as magnolias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnolias são menos inquietas do que eu era na minha infancia. Um poeta dizia que o menino é pae do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.

Desde os cinco annos merecera eu a alcunha de «menino diabo»; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negára uma colhér do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o maleficio, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer a minha mãe que a escrava é que estragára o doce «por pirraça»; e eu tinha apenas seis annos.