MEMORIAS DE UM NEGRO
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brilho de prophecia, Clark Howell, successor de Henry Grady. me disse:

— O discurso deste homem vai ser o começo duma revolução moral nos Estados Unidos.

Pela primeira vez um negro se manifestou no Sul, em momento de alguma importancia, na presença de brancos dos dois sexos. E electrizou o publico: um enorme clamor, um ruido de tormenta abafou as suas ultimas palavras.

Quando a sra. Thompson se sentou, todos os olhos se pregaram num grande negro côr de bronze que occupava lugar na primeira fila do palco. Era o professor Booker T. Washington, director da escola normal e profissional de Tuskegee, de agora em diante uma personagem notavel entre os da sua raça. A orchestra de Gilmore tocou a aria da Star-Spangled Banner, e todos applaudiram. Em seguida veio a aria de Dixie, e houve gritos freneticos. Com Yankee Doodle o enthusiasmo diminuiu.

Toda a gente se preoccupava com o orador negro. Extranho acontecimento: um negro ia falar em nome do seu povo, sem ser interrompido. O professor Booker Washington levantou-se, deu uns passos, tentou defender-se do sol, que entrava pelas janellas e lhe batia no rosto. Emquanto uma grande acclamação o acolhia, procurou lugar commodo no palco. Depois, resolutamente, affrontou a luz e, sem bater as palpebras, começou a falar.

Era uma figura imponente. Grande, magro, conservava-se direito como um chefe selvagem. Cabeça erguida, fronte altiva, nariz recto, queixo forte, boca firme e voluntariosa, dentes brancos