MEMORIAS DE UM NEGRO
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A vida em Hampton era uma surpresa constante para mim, sentia-me transportado a um mundo novo. Comer num prato a horas certas, em mesa com toalha, tomar banho, usar escova de dentes, dormir em cobertores, tudo era novidade. Desses habitos novos o mais precioso que adquiri em Hampton foi o banho, que me pareceu bom como hygiene e bom para fazer o individuo respeitar-se. Nas minhas viagens, depois que deixei a escola, procurei sempre o meu banho diario, ás vezes difficil de obter, sobretudo em casas de negros. Em difficuldades semelhantes, appellei para o riacho da floresta. Nunca me cancei de recommendar aos pretos a installação de banheiros.

Quando entrei no collegio, possuia um par de meias. Lavava-as á noite, pendurava-as junto do fogo e calçava-as pela manhã. De pensão devia pagar dez dollars por mez, parte em dinheiro, parte em trabalho. Ao chegar, dispunha de alguns tostões. Com isso e com os raros dollars que meu irmão conseguia mandar-me, de longe em longe, o pagamento era difficil. Resolvi, pois, tornar-me indispensavel como criado. Sahi-me bem: logo me communicaram que me davam a pensão toda pelo trabalho. Restavam as despesas de estudo, e estas montavam a setenta dollars por anno, somma inattingivel para mim, evidentemente. Sem poder arranjar essa dinheirama toda, ser-me-ia preciso dei-