MEMORIAS DE UM NEGRO
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tavam. No quarto que me deram havia mais sete pessoas, quasi todas chegadas antes de mim. Os lençoes me atrapalharam. Na primeira noite deitei-me em baixo delles; na segunda noite deitei-me em cima; na terceira observei os meus companheiros, aprendi a maneira de usar os lençoes, tratei de habituar-me e fiz o que pude para transmittir a outros a minha experiencia.

Eu era dos estudantes mais novos. A maior parte se compunha de gente madura, homens feitos e mulheres, alguns de quarenta annos. Acho que poucos individuos terão tido opportunidade de viver no meio de trezentas ou quatrocentas pessoas animadas de enthusiasmo semelhante. Estudavam e trabalhavam o dia inteiro, todos conheciam o mundo e avaliavam a necessidade da instrucção. Alguns, muito velhos para entrar seriamente nos manuaes, faziam esforços terriveis, suppriam pela tenacidade o que lhes faltava em viveza de espirito. Muitos, arrastados como eu, desembrulhando o que havia nos livros, affligiam-se com privações de todo o genero. Varios tinham parentes idosos que dependiam delles. Havia tambem homens casados, e esses precisavam fazer milagre para sustentar as mulheres.

A ambição de todos era o aperfeiçoamento da raça, ninguem pensava em si mesmo. E os mestres,