vida um fruto do seu derradeiro amor, crescia-lhe n’alma aquela violenta chama do costume; o pobre homem ardia todo por dentro e por fora, e desfazia-se em carinhos para com sua companheira.

Chegou finalmente o dia de aparecer o desejado resultado: ao amanhecer manifestara os primeiros sintomas. Leonardo levantou logo uma poeira em casa: andava de dentro para fora pretendendo fazer mil coisas, e sem fazer coisa alguma, atrapalhado e tonto. Mandou chamar a comadre, que pronta acudiu ao chamado, e começaram-se a arranjar os preparativos. Talvez alguns leitores tenham idéia do mundo infinito de arranjos que naquele tempo se punha em giro em semelhantes ocasiões. A primeira coisa a que o Leonardo-Pataca providenciou foi que se mandassem dar as nove badaladas no sino grande da Sé. Esta prática só costumava ter lugar quando a parturiente se achava em perigo, porém ele quis prevenir tudo a tempos e a horas. Mandou-se depois pedir à vizinha, pois por um descuido imperdoável não havia em casa, um ramo de palha benta; a comadre trouxe um par de bentinhos da Senhora do Monte do Carmo que tinham grande reputação de milagrosos, e o lançou ao pescoço da Chiquinha. Pôs a palha benta ao lado da cabeceira; na sala improvisou-se um oratório com uma toalha, um copo com arruda e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição de louça, enfeitada com cordões de ouro. Chiquinha, para nada esquecer das regras estabelecidas, amarrou à cabeça um lenço branco, meteu-se embaixo dos lençóis, e começou a rezar ao santo de sua devoção. A comadre assentou-se aos pés da cama em uma banquinha, e desunhava também em um grande rosário, observando entretanto a Chiquinha,