de gastar muito tempo nos deveres do ofício e na igreja, sempre lhe sobrara algum para empregar em outras coisas. Como dissemos, ela havia tomado a peito a causa dos amores de Leonardo com Luisinha, e jurara pôr José Manuel, o novo candidato, fora da chapa.
Começou pois a ocupar o seu tempo disponível nesse grave negócio, e movia uma intriga surdíssima e constante contra o rival de seu afilhado. Gozando da intimidade e do crédito de D. Maria, não perdia junto dela ocasião de desconceituar José Manuel, o que era-lhe tanto mais fácil quanto ele prestava-se a isso, e D. Maria, de espírito demandista e chicaneiro, dava o cavaco por um mexerico. Eis aqui uma das que ela armou ao adversário.
Todos sabem nesta cidade onde é o Oratório de Pedra; mas o que todos talvez não saibam é para que serviu ele em outros tempos. Sem dúvida naquele oratório havia a imagem de algum santo, e o povo devoto ia ali rezar? Exatamente. Mas por que é que hoje não continua essa prática, por que apenas se conserva sobre a parede aquela espécie de guarita de pedra, sem imagem alguma, sem luz à noite, e diante da qual passam todos irreverentemente sem tirar o chapéu e curvar o joelho? Primeiro que tudo extinguiu-se isso pela razão por que se extinguiram muitas coisas boas daquele bom tempo; começaram todos a aborrecer-se de achá-las boas, e acabaram com elas. Depois houve a respeito do Oratório de Pedra muito boas razões policiais para que ele deixasse de ser o que era.
O leitor, que sem dúvida sabe muito bem de quanto eram nossos pais crentes, devotos e tementes a Deus, se admirará talvez de ler que houve razões policiais