talvez muito de achar-se na posição em que se achava o Leonardo, porém ele nem nisso pensava, e o que é mais, nem mais pensava naquilo que até então lhe não saía da cabeça, isto é, em Luisinha de um lado e José Manuel do outro: agora não via senão os olhos negros e brilhantes, e os alvos dentes de Vidinha; não ouvia senão o eco da modinha que ela cantara. Estava pois embebido num êxtase contemplativo.

No mais pensaria quando lhe restasse tempo.

Mal se haviam todos sentado em uma larga esteira junto à soleira da porta sobre a calçada, o Leonardo propôs logo que se cantasse uma nova modinha.

— Qual... respondeu Vidinha acompanhando este qual da sua costumada risada; estou já tão cansada... que nem posso!

— Ora... ora... disseram umas poucas de vozes. Além do costume das risadas tinha Vidinha um outro, e era o de começar sempre tudo que tinha a dizer por um qual muito acentuado; respondeu ainda portanto:

— Qual... pois se eu também já cantei tudo que sabia. Qual, meu Deus! nem eu posso mais!

— Ainda não cantou a minha favorita, disse um dos presentes.

— Nem a minha, disse outro.

— Eu também, acrescentou outro, ainda não lhe pedi aquela cá do peito.

— Qual, meu Deus! onde é que isto vai parar!

— Ora, mana, não se faça de boa.

— Ai, criatura, disse uma das velhas, quereis que vos reze um responso para cantardes uma modinha?

Leonardo, vendo sua causa advogada por tantas vozes, conservou-se calado. Tentados mais alguns