encontro da comadre, e foi-lhe logo dizendo antes de lhe dar tempo de tirar a mantilha:

— Então já o rapaz não está em casa? Senhora, aquilo é gênio, nasceu com ele, e com ele há de ir à sepultura. Bem me diziam o que ele era, e apesar do seu ar sonso nunca lhe fiz fé.

— Adeus que me está a senhora a pôr culpas em quem não as tem; o rapaz desta vez tem toda a razão...

— Ora, histórias da vida; isso diz você porque o estima como se fosse sua mãe; mas vá com esta que eu lhe digo: os rapazes de agora andam de cabeça levantada... Mas o defunto padrinho-Deus lhe fale n’alma,-foi o próprio que teve culpa de tudo isso com aquelas fumaças de Coimbra que lhe meteu na cabeça...

— Mas, senhora de Deus, se o bruto do pai até chegou a corrê-lo de espada na mão...

— Que tal não faria ele! mas que tinha isso? o pai não o havia esquartejar... por certo, que eu bem lhe conheço o gênio; aquilo era raiva, e havia de passar; devia ele sujeitar-se... sempre é seu pai.

— Com a Virgem Santa! pois se tudo isso foi por uma coisa de nada, por causa de uma almofada de renda... Isto é coisa em que se creia?!... E agora para onde é que há de ir aquele coitado?...

— Há de estar por aí metido em algum fado de ciganos; não se lembra do que ele fez quando o padrinho era vivo?

— Ora, criançadas... para que falar nisso?

Este diálogo ia continuando interminável sobre o mesmo assunto, quando D. Maria, mudando repentinamente de conversa, disse à comadre: